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Após ajudar a levar 80 mil pessoas para a Telexfree , que tem meio milhão de associados, o ator da Record Sandro Rocha deixou a rede.
Rocha, diz, vai aderir à Multiclick, que está sob investigação do Ministério Público do Rio Grande do Norte (MP-RN) por suspeita de ser uma pirâmide financeira – o mesmo motivo que, há exato um mês, levou ao bloqueio da Telexfree . O ator não vê irregularidade em nenhuma das empresas.
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“Acredito que é possível, mas é difícil desbloquear tudo aquilo ali”, diz em referência à decisão que suspendeu os pagamentos da Telexfree.
O anúncio do abandono foi feito num vídeo de 42 minutos publicado no início desta semana na internet. Nele, Rocha afirma que foi procurado por seis empresas, discutiu a situação com a direção da Telexfree e que sai a “consciência tranquila.”
Meses atrás, também em vídeos na internet, Rocha convidava o público a se tornar milionário com a Telexfree, “como a gente tem o caso de várias pessoas” .
Garoto propaganda informal
Para a Telexfree, a decisão significa a perda de quem é talvez o seu maior garoto propaganda informal. Rocha não é sócio da empresa, nem contratado por ela, mas colou sua fama à marca: suas equipes de divulgadores se chamam Grupo de Elite, uma referência ao filme “Tropa de Elite 2”, em que ele interpreta o papel de um policial corrupto. Nas reuniões motivacionais com os líderes – como são chamados os divulgadores que constituem grandes redes – usava a frase “Missão dada é missão cumprida”.
O ator também foi uma das vozes mais populares a se levantar contra a decisão da juíza Thaís Khalil, da 2ª Vara Cível de Rio Branco (AC), que bloqueou os pagamentos em 18 de junho. “BOMBA Sandro Rocha protesta contra a perseguição à Telexfree”, vídeo que ele gravou dois dias depois da decisão, teve cerca de 12 mil visualizações.
“Se a Telexfree for bloqueada eu vou ser o primeiro a estar na rua perguntando o porquê. Por que isso é uma atitude irresponsável. Irresponsável!”, disse o ator. “Espero que você da Telexfree compartilhe esse é vídeo. Vamos para a rua. Está tudo dentro da lei.”
Ao iG , Rocha continua a considerar a decisão de Thaís uma “arbitrariedade”, recusa o papel de líder da Telexfree, e diz que a Multiclick tem um conceito “diferente”. Para levar seus 120 líderes para a própria rede, afirma, investiu R$ 300 mil do próprio bolso. Leia abaixo mais trechos da entrevista.
A reportagem tentou entrar em contato com a Multiclick pelo site da empresa, mas o sistema apresentou uma falha na noite desta quarta-feira (17)
Como o senhor pretende reaver o dinheiro que tem parado?
Sandro Rocha: Entrando com um recurso, não contra a Telexfree, mas contra contra a decisão da Justiça de reter a possibilidade de receber o que é meu.
Em relação ao seu patrimônio, essa parcela parada na Telexfree é muito expressiva?
É uma renda expressiva porque sempre trabalhei muito, meus resultados são bastante bons mediante o meu trabalho. Não era a maioria [ do patrimônio ], mas era uma quantidade bastante signficativa. Eu nunca me autointitulei líder de coisa nenhuma.
Por que o senhor acredita que lhe atribuem a condição de líder da Telexfree?
No momento em que a empresa foi paralisada, eu botei a cara, fiz um vídeo, eu estava ali presente, era uma voz ativa. O momento e a maneira como eu fiz podem ter remetido às pessoas uma liderança.
O bloqueio forçou uma mudança no seu cotidiano?
Quando você entra num tipo de negócio como esse do marketing multinível, o seu padrão de vida gira em torno daquilo que é a nova realidade. Você tem pessoas que ganhavam R$ 2 mil no trabalho habitual e nesse trabalho da Telexfree estavam ganhando R$ 40 mil, R$ 50 mil. Essa pessoa comprou três imóveis e, da noite para o dia, bloquearam o backoffice [ canal pelo qual os divulgadores geriam suas contas ]. Tem pessoas que se deslumbraram, existia uma política meio beirando a ostentação [por parte de ] algumas pessoas, e isso prejudicou na hora que secou.
O senhor diz que usaria o dinheiro da Telexfree para dar o início a um projeto social [ para 480 crianças ]. Isso foi suspenso?
Não. Dia 20 agora temos uma reunião com o pastor que vai nos ceder os lugares, vamos correr supermercados [ para conseguir doações ]…
E na vida pessoal, algo mudou?
Não. Eu vim de uma família muito pobre. Quando você consegue alguma coisa tem de ter serenidade. Em vez de comprar carro, carro, carro, você tem prioridades e acaba tendo equilíbrio nos investimentos. Agora, você acaba se planejando para novos objetivos e isso aí foi impactado. Claro que foi prejudicial. Eu tenho bastante dinheiro retido lá, o suficiente para sustentar a parte de alimentação do meu projeto social por um ano.
O senhor tem esperança de reaver o seu dinheiro?
Acredito que é possível. Mas pelo que eu vejo hoje, tá difícil, cara. Está difícil de desbloquear tudo aquilo ali. Então até quando a gente vai ficar esperando? Acho que a promotoria e a juíza fizeram uma coisa aviltante. Agora o fato de eu achar aviltante não muda a situação. O que as pessoas têm de entender é que quem está com o dinheiro retido quer saber se há retorno, e não que é uma injustiça, pois isso ele já sabe. Qual é a melhor oportunidade no mercado? A gente estudou e viu que a a Multiclick é uma empresa que tem uma estrutura sustentável. Lamentável, claro, queríamos ficar na Telexfree. Ma a realidade não é essa.
Quantas pessoas há na sua rede?
Com o meu parceiro a gente passava de 240 mil. Eu, Sandro Rocha, tenho 80 mil.
No vídeo o senhor sugere que eles mudem para a Multiclick…
Eu não falei para todo mundo ir para a Multiclick. Eu disse que eu estou indo para a Multiclick. Você concorda que eu não posso conhecer todas as 80 mil pessoas? O direcionamento é sempre para a liderança próxima [ o grupo de Rocha tem cerca de 120 líderes ]. Eu tenho gente [ líderes ] em Aracaju, Paraguai, vários lugares do Brasil.
O senhor algum dia pensou em largar a carreira de ator para atuar apenas no marketing multinível?
Negativo, jamais eu pensei. Sei muito bem dividir as coisas e não colocar todos os ovos na mesma cesta. Trabalho desde os 13 anos, minha vida nunca foi fácil. Jamais eu poderia largar tudo e ficar só com a Telexfree. Se esse negócio pode te dar uma aposentadoria, é lógico que você vai direcionando mais seu tempo. Mas tenho três filmes em lançamento neste ano, a vida continua normalmente. Eu entrei na Telexfree já com a minha vida resolvida, não estava precisando ficar ali ostentando nada. Isso é uma coisa que eu não faria até em respeito à situação econômica do País. Dinheiro para fazer essas aquisições [ ostentatórias ] a gente até conseguiu.
Mas a própria Telexfree não estimulou um pouco essa ostentação?
Eu fico chateado pois as pessoas não fazem a cobrança para quem é de direito. É direito seu ir para a rua defender a empresa, mas é direito seu cobrar a empresa.
O MInistério Público do Rio Grande do Norte abriu há algumas semanas uma investigação contra a Multiclick. Nada foi provado até agora, mas o senhor acha que é seguro, ainda assim, levar os seus líderes para essa nova empresa?
Um dos critérios para eu ir para a Multiclick foi que eles tinham de acatar todos os critérios dos meus advogados. O processo de Belo Horizonte [ um questionamento enfrentado pela empresa, segundo Rocha ] foi resolvido hoje (dia 17). A empresa tem um inquérito aberto relativo à aquisição de outra, mas toda empresa que é comprada passa pelo crivo de uma investigação. A Multiclick tem hoje mais de 19 mil produtos no seu escopo de negócios, só é possível fazer um cadastro por CPF, o contrato também é de 12 meses, e a empresa está inaugurando uma franquia de lojas físicas e lançando uma faculdade de marketing multinível. São coisas plausíveis. [ A Multiclick ] tem sustentabilidade e uma base jurídica toda respaldada. Vamos contratar o melhor economista do País e fazer um laudo de sustentabilidade. O conceito é diferente.
O senhor continua a ver a Telexfree como um negócio legítimo ou ela é uma pirâmide como acusa o Ministério Público do Acre?
Acho que ela é um negócio legítimo também.