InícioEmpregosInserção de mulheres no mercado aumenta, mas desafios permanecem

Inserção de mulheres no mercado aumenta, mas desafios permanecem

Pesquisa realizada em Montes Claros (MG) mostra que presença feminina ainda está restrita a algumas funções, com diferenças salariais para os homens

A presença das mulheres no mercado de trabalho vem crescendo a cada ano, mas ainda há desafios a serem superados. A conclusão é de um estudo divulgado durante o 3º Seminário da Rede de Observatórios do Trabalho, que começou na segunda (11) e terminou nesta terça-feira (12), na sede do Ministério do Trabalho, em Brasília. “Percebemos que há uma expansão da presença das mulheres no mercado de trabalho formal, mas elas ainda estão muito alocadas a algumas áreas específicas”, comentou o professor das Faculdades Santo Agostinho de Montes Claros (Fasa) e coordenador do Observatório do Acesso ao Trabalho e da Justiça (Oatjus/Fasa), Gilson Cássio de Oliveira Santos, que conduziu o estudo.

Os dados foram coletados em Montes Claros, uma cidade mineira de porte médio, com 400 mil habitantes. Segundo o estudo, no período de 1985 a 2015 houve um crescimento substancial da mulher no mercado de trabalho, chegando a ocupar 45% dos empregos formais em 2015. No entanto, esse crescimento ainda ficou concentrado em alguns setores, como o de serviços. Também houve aumento da presença feminina no comércio, na indústria e na construção civil, mas em números ainda inferiores aos dos homens. “O aumento se deu basicamente em funções ainda alocadas a mulheres, como escriturárias e apoio administrativo”, diz o coordenador.

Salários – A pesquisa do Oatjus revela uma redução na diferença salarial entre homens e mulheres. Em 1985, os homens recebiam cerca de um salário mínimo a mais que as mulheres. Em 2007, a diferença quase zerou, mas por conta da redução média dos salários masculinos. “Também se observa que as mulheres trabalham em média duas horas semanais a menos que os homens, o que interfere no salário”, acrescenta Santos.

Outra razão para a diferença está nas posições ocupadas pelas trabalhadoras, que costumam ser inferiores às dos homens. “Geralmente, elas não ocupam cargos de chefia, de tomada de decisão”, observa o coordenador do Oatjus.

Nacional – Apesar de a pesquisa ter sido realizada dentro de um contexto local, os apontamentos de Montes Claros representam a tendência do Brasil. Santos explica que as cidades de porte médio no Brasil refletem muito o cenário nacional, entre outros motivos porque elas têm uma participação substancial na vida econômica do país e funcionam como pequenos espelhos do cenário macro. “Fazemos as comparações e a tendência é praticamente a mesma”, afirma. “A presença das mulheres cresceu no mercado formal; houve redução da diferença salarial entre homens e mulheres pelo mesmo motivo. Há também no cenário nacional um cumprimento de horas semanais inferior pelas mulheres.”

Medidas – Os dados permitem apontar mudanças e medidas que podem ajudar a reduzir ou eliminar as diferenças. Santos cita o exemplo das creches, que ajudam na participação das mulheres no mercado de trabalho. “Quando o casal tem filho, geralmente a mulher é quem cuida dele. Quando o Estado providencia uma creche, a mulher tem como destinar o filho aos cuidados da instituição e se inserir no mercado”, diz.

Outro ponto é que as mulheres no mercado de trabalho costumam ter níveis mais altos de escolaridade do que os homens, apesar dos salários menores. “Então, se a escolarização eleva a participação das mulheres, uma boa política seria investir ainda mais na escolarização das mulheres, aumentando a porta de entrada delas no mercado”, afirma o professor.

Cultura – Uma medida mais estrutural e de longo prazo seria a transformação cultural. Santos lembra que o Brasil tem mudado muito, mas ainda é um país machista. As próprias mães, diz ele, incentivam as filhas em relação à divisão de brincadeiras e tarefas, mas as escolas podem fazer um contraponto.

Em feiras de profissões, por exemplo, é possível mostrar que tanto mulheres quanto homens podem trabalhar em enfermagem, engenharia, ensino e diversas profissões, sem preconceitos. “Desmistificar isso é importante, porque assim a criança, quando crescer e chegar ao mercado, vai poder escolher a profissão que ela quiser”, afirma Santos.

 Ministério do Trabalho e Emprego

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A presença das mulheres no mercado de trabalho vem crescendo a cada ano, mas ainda há desafios a serem superados. A conclusão é de um estudo divulgado durante o 3º Seminário da Rede de Observatórios do Trabalho, que começou na segunda (11) e terminou nesta terça-feira (12), na sede do Ministério do Trabalho, em Brasília. “Percebemos que há uma expansão da presença das mulheres no mercado de trabalho formal, mas elas ainda estão muito alocadas a algumas áreas específicas”, comentou o professor das Faculdades Santo Agostinho de Montes Claros (Fasa) e coordenador do Observatório do Acesso ao Trabalho e da Justiça (Oatjus/Fasa), Gilson Cássio de Oliveira Santos, que conduziu o estudo.

Os dados foram coletados em Montes Claros, uma cidade mineira de porte médio, com 400 mil habitantes. Segundo o estudo, no período de 1985 a 2015 houve um crescimento substancial da mulher no mercado de trabalho, chegando a ocupar 45% dos empregos formais em 2015. No entanto, esse crescimento ainda ficou concentrado em alguns setores, como o de serviços. Também houve aumento da presença feminina no comércio, na indústria e na construção civil, mas em números ainda inferiores aos dos homens. “O aumento se deu basicamente em funções ainda alocadas a mulheres, como escriturárias e apoio administrativo”, diz o coordenador.

Salários – A pesquisa do Oatjus revela uma redução na diferença salarial entre homens e mulheres. Em 1985, os homens recebiam cerca de um salário mínimo a mais que as mulheres. Em 2007, a diferença quase zerou, mas por conta da redução média dos salários masculinos. “Também se observa que as mulheres trabalham em média duas horas semanais a menos que os homens, o que interfere no salário”, acrescenta Santos.

Outra razão para a diferença está nas posições ocupadas pelas trabalhadoras, que costumam ser inferiores às dos homens. “Geralmente, elas não ocupam cargos de chefia, de tomada de decisão”, observa o coordenador do Oatjus.

Nacional – Apesar de a pesquisa ter sido realizada dentro de um contexto local, os apontamentos de Montes Claros representam a tendência do Brasil. Santos explica que as cidades de porte médio no Brasil refletem muito o cenário nacional, entre outros motivos porque elas têm uma participação substancial na vida econômica do país e funcionam como pequenos espelhos do cenário macro. “Fazemos as comparações e a tendência é praticamente a mesma”, afirma. “A presença das mulheres cresceu no mercado formal; houve redução da diferença salarial entre homens e mulheres pelo mesmo motivo. Há também no cenário nacional um cumprimento de horas semanais inferior pelas mulheres.”

Medidas – Os dados permitem apontar mudanças e medidas que podem ajudar a reduzir ou eliminar as diferenças. Santos cita o exemplo das creches, que ajudam na participação das mulheres no mercado de trabalho. “Quando o casal tem filho, geralmente a mulher é quem cuida dele. Quando o Estado providencia uma creche, a mulher tem como destinar o filho aos cuidados da instituição e se inserir no mercado”, diz.

Outro ponto é que as mulheres no mercado de trabalho costumam ter níveis mais altos de escolaridade do que os homens, apesar dos salários menores. “Então, se a escolarização eleva a participação das mulheres, uma boa política seria investir ainda mais na escolarização das mulheres, aumentando a porta de entrada delas no mercado”, afirma o professor.

Cultura – Uma medida mais estrutural e de longo prazo seria a transformação cultural. Santos lembra que o Brasil tem mudado muito, mas ainda é um país machista. As próprias mães, diz ele, incentivam as filhas em relação à divisão de brincadeiras e tarefas, mas as escolas podem fazer um contraponto.

Em feiras de profissões, por exemplo, é possível mostrar que tanto mulheres quanto homens podem trabalhar em enfermagem, engenharia, ensino e diversas profissões, sem preconceitos. “Desmistificar isso é importante, porque assim a criança, quando crescer e chegar ao mercado, vai poder escolher a profissão que ela quiser”, afirma Santos.

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