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Risco – Copa de 2014 – Todas as mágoas do PMDB – Até os redutos estão rachados – Romário, se bobear, é “banco” – PV dividido nos estados – Caixa milionário ajuda. E muito – Agnelo tem 50% contra 36% de Weslian – Filho de Tiririca diz que pai sabe ler e irá comprovar à Justiça…

FOLHA DE S.PAULO

Tribunal de Contas liga ONG de Roriz a mensalão do DEM
O instituto fundado pela candidata ao governo do Distrito Federal, Weslian Roriz (PSC), foi beneficiado pelo mesmo esquema que mais tarde patrocinou o mensalão do DEM, segundo o Tribunal de Contas do DF. O Instituto Integra aparece na lista de irregularidades em contratos de informática da Codeplan (Companhia do Desenvolvimento do DF). Na época, a companhia estava sob a administração do governador Joaquim Roriz (2003-2006) e era presidida por Durval Barbosa. Barbosa veio a ser o delator do mensalão do DEM.

O caso envolve empresas também contempladas pelo esquema já no governo José Roberto Arruda (2007-2010). Essas empresas foram indiciadas pela Polícia Federal na operação Caixa de Pandora. Segundo o delator e a CPI da Codeplan, a companhia de desenvolvimento foi o embrião do esquema do mensalão – possibilidade admitida pelo próprio Roriz.

Todas as “falhas graves” apuradas pelo tribunal no Instituto Integra são do período em que Weslian era presidente da ONG (2004-2006). O TCDF afirma que as facilidades obtidas pela ONG podem ser consideradas uma violação do princípio constitucional da impessoalidade, dada a relação do “casal 20”- slogan de Weslian na campanha ao governo após substituir o marido “ficha-suja” na disputa.

Segundo o tribunal, a ONG recebeu da Codeplan obras e equipamentos para montar laboratórios de informática para cegos, e o governo bancou os instrutores, sem a ONG ter comprovado que ofereceu os cursos. O governo pagou a manutenção dos computadores sem a organização oferecer de fato o programa de inclusão digital. Mesmo assim, o convênio foi renovado duas vezes. A auditoria apontou também que os programas da ONG “Fábrica Minha Sopa” e “Cão Guia” não tinham relação com inclusão digital.

Usada na campanha como principal experiência da novata Weslian, a Integra contou ainda com outras facilidades no governo Roriz. A sala do instituto foi doada pelo governo e, segundo a auditoria, material de informática foi deixado para a ONG. Só para “adequar o ambiente”, o governo gastou R$ 343 mil (em valores atualizados).

Lula é um mito, mas mitos e muros são derrubados (entrevista Itamar Franco)
Um dos articuladores do voto “Lulécio” em 2002, a favor do petista Lula para a Presidência e do tucano Aécio Neves para o governo de Minas, o ex-presidente da República Itamar Franco (1992-1994) agora critica duramente Luiz Inácio Lula da Silva e diz que ele tem de parar de falar “nunca antes neste país”: “O Lula não é dono do Brasil e não inventou o Brasil”.

Segundo ele, “Lula não é democrata”: “Um presidente que vai a Minas dizer que não pode ter um senador de oposição, que zomba da imprensa, que zomba da Constituição, não é democrata.” Ex-senador (1975-1990), Itamar, 80, volta à Casa pelo PPS com a língua afiada. Ao lembrar de Getúlio Vargas, diz que “Lula tornou-se um mito, mas mitos e muros também são derrubados”.

Folha – Por que Serra e não Dilma?
Itamar Franco – Porque ela tem um discurso monotemático. Se fosse uma estudante, seria uma aluna boa para decorar as lições, não para fazer cálculos. Ela vem com um discurso preparadinho que o presidente ensinou. Já o Serra tem pensamento próprio. Mas, se não mudar o discurso, vai perder.

Mudar em quê?
Tem de parar de elogiar ou de ser condescendente com o Lula. Imagine o cidadão que está em casa ouvindo isso: “Puxa, se o candidato da oposição elogia tanto o presidente, para que mudar?”

E o argumento que Lula tem 80% de popularidade e não dá para bater nesse muro?
Ele tornou-se um mito, mas mitos e muros também são derrubados.

Não foi o sr. que criou o voto “Lulécio” de 2002?
Procurado pelo Zé Dirceu, desisti da disputa e apoiei o Aécio para o governo e o Lula para presidente. Daí surgiu o voto Lula-Aécio.

O que aconteceu depois?
Sabe o que o Lula fez em 2006? Foi na minha terra, levou todo mundo e subiu no palanque até com o Celso Amorim, que também foi meu chanceler, para falar mal de mim. Fiquei triste. Agora o Lula fez uma campanha muito violenta em Minas contra a gente de novo, uma campanha que raiou o imoral, agredia os princípios democráticos. Bem, um presidente que faz no Senado o que ele faz, que nem presidente militar fez…

PT tenta apagar fama “antiverde” de Dilma
Para atrair os votos ambientais de Marina Silva (PV), o PT está tentando passar uma demão de tinta verde em Dilma Rousseff. A operação deve começar por um ataque à reforma do Código Florestal do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP), aprovada em comissão especial da Câmara e que aguarda votação em plenário. Será difícil, porém, apagar a fama de antiambientalista de Dilma.

A ex-ministra da Casa Civil sempre antagonizou com Marina, e é frequentemente apontada como um dos pivôs da saída da senadora do governo e do PT. Na opinião de gente que acompanhou os embates entre as duas, Dilma potencializou um desenvolvimentismo que o próprio Lula não manifestava no começo do governo, e que culminou com a retirada de apoio do presidente à pasta de Marina. Essas fraturas devem dificultar a aproximação entre Marina e a petista agora.

Todas as negociações entre a Casa Civil e o Meio Ambiente nos três anos em que as duas ministras conviveram precisaram “subir” para a arbitragem presidencial. O pomo da discórdia, desde o início, foram as obras de infraestrutura. Já em 2005, antes do lançamento do PAC, Dilma mandou excluir a componente de infraestrutura do PPCDAm (Plano de Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia), coordenado por ela.

O plano, assim, deixava de abordar alguns dos principais vetores da devastação – hidrelétricas e estradas. Em 2007, com o PAC na rua, Dilma pressionou o Ministério do Meio Ambiente pela liberação de licença para as bilionárias hidrelétricas do rio Madeira (RO). O episódio, conhecido como a “crise do bagre”, terminou com o atropelo de um parecer do Ibama contrário à licença.

“Onda verde” não amplia número de mandatos do PV nessa eleição
Apesar dos quase 20 milhões de votos de Marina Silva (PV) na disputa pela Presidência, seu partido manteve o naniquismo. Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), 37 deputados estaduais do PV foram eleitos neste ano – em 2006, foram 34.

Na Câmara Federal, subiu de 13 para 15 parlamentares verdes. Com a candidatura de Marina, o PV ainda perdeu seu único representante no Senado Federal. Motivada pela candidatura nacional, a legenda lançou 1.400 candidatos no país -maior número entre todos os partidos. Para alguns dirigentes, o distanciamento entre a campanha de Marina e as dos demais candidatos contribuiu para o baixo desempenho.

Candidatos nanicos ainda estão indecisos sobre quem apoiar
Cinco dos seis candidatos nanicos à Presidência, que juntos somaram pouco mais de 1,1 milhão de votos, não definiram ainda se vão apoiar Dilma Rousseff (PT) ou José Serra (PSDB) no segundo turno. Plínio de Arruda Sampaio (PSOL), o mais votado do grupo, com 886 mil votos, afirma que está consultando os diretórios do partido, simpatizantes e filiados.

Levy Fidelix (PRTB), José Maria Eymael (PSDC) e Ivan Pinheiro (PCB) também esperam decisão dos filiados dos seus partidos. Rui Costa Pimenta (PCO) também não se decidiu, mas adiantou que provavelmente deve pedir aos seus 12 mil eleitores que votem nulo. Zé Maria (PSTU), que conseguiu 84 mil votos, foi o único a declarar o voto do segundo turno, optando pelo nulo.

Filho de Tiririca diz que pai sabe ler e irá comprovar à Justiça
O humorista Tiririca, deputado federal eleito mais votado do Brasil, está descansando com a família no Ceará. De acordo com seu filho, Everson Silva, o palhaço Tirulipa, ele está numa praia próxima à Fortaleza, “só curtindo”, e deve se apresentar à Justiça de São Paulo para provar que sabe ler e escrever no dia 14 de outubro. Segundo denúncia do Ministério Público Eleitoral, acatada pela Justiça, Tiririca falsificou o documento que apresentou para mostrar que é alfabetizado.

Tirulipa afirmou que o pai não é analfabeto. Para ele, as acusações contra Tiririca são decorrentes de interesses da oposição, pelo fato de sua votação ter levado para a Câmara mais três candidatos e ter excluído outros. Apesar da polêmica, ele disse que o pai está muito bem.

Serra não deve usar tom agressivo em confronto na TV
Nada disposto a repetir a experiência de 2006, o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, deverá evitar investidas agressivas hoje no primeiro debate com a adversária petista Dilma Rousseff [TV Bandeirante, hoje, às 22h]. Segundo integrantes do comando da campanha de Serra, o candidato reservará seus comentários mais ácidos para respostas e réplicas. Mas não deverá reproduzir a estratégia de 2006, quando, instado pelo PSDB, Geraldo Alckmin partiu para o ataque no debate com o presidente Lula – e teve sua performance mal avaliada.

Como o adversário fica com a última palavra nos confrontos diretos, Serra deverá evitar perguntas agressivas para Dilma. Serra não deixará de abordar temas polêmicos, como denúncias de tráfico de influência na Casa Civil e loteamento de cargos no governo, mas as críticas serão diluídas ao longo de suas respostas. Deve concentrar seus questionamentos em áreas que considera falhas no governo – como saneamento, resultado negativo do Banco Central e deficiências do programa de habitação.

Agnelo tem 50% contra 36% de Weslian
O candidato Agnelo Queiroz (PT) saiu na frente no segundo turno da disputa pelo governo do Distrito Federal. Ele tem 50% das intenções de voto, contra 36% de Weslian Roriz (PSC), segundo pesquisa Datafolha encomendada em parceria pela Folha e pela Rede Globo. Os votos brancos e nulos somam 8%, e 6% dos eleitores estão indecisos.

Se a eleição fosse realizada hoje, Agnelo venceria a mulher do ex-governador Joaquim Roriz (PSC) por 58% a 42% dos votos válidos, que excluem brancos, nulos e abstenções. A pesquisa revela que os eleitores de Toninho do PSOL, que ficou em terceiro lugar no primeiro turno com surpreendentes 14% dos votos válidos, tendem a aderir ao candidato petista. Agnelo seria escolhido por 45% dos eleitores de Toninho, enquanto 19% migrariam para Weslian. Outros 24% dos eleitores do candidato do PSOL votariam nulo ou em branco.

CORREIO BRAZILIENSE

Caixa milionário ajuda. E muito
Um caixa de campanha farto é fundamental para a eleição. Essa regra vale tanto para candidatos a cargos proporcionais, como deputado federal, como para aqueles que concorrem a cargos majoritários, como governador ou senador. Levantamento feito pelo Correio, com base na segunda parcial das doações registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mostra que a grande maioria das campanhas milionárias obteve sucesso nas urnas. Das 43 maiores campanhas para deputado federal, todas acima de R$ 1 milhão, apenas sete candidatos não se elegeram. Nas disputas pelos governos estaduais, 20 candidatos que ficaram na primeira colocação contaram com mais dinheiro do que os concorrentes. As doações pesaram menos na disputa pelo Senado. Das 37 campanhas milionárias, 15 fracassaram.

O valor das campanhas ainda vai aumentar quando for feita a declaração definitiva dos candidatos, até 2 de novembro. O levantamento atual leva em consideração as campanhas que já ficaram acima de R$ 1 milhão. Com o resultado da eleição, também é possível avaliar o custo do voto. Esse número será maior para todos após a declaração final no TSE, mas os atuais permitem comparar o valor do voto entre as diversas campanhas. Entre os candidatos à Câmara, a campanha mais cara foi a de Vaccarezza (PT-SP), com R$ 2,79 milhões arrecadados até agora. Como ele fez 131 mil votos, cada um custou R$ 21,2 — um valor bem acima da média de R$ 9,34. O voto mais barato foi o de Anthony Garotinho (PR-RJ), que declarou ter arrecadado cerca de R$ 1 milhão. Ele fez 694 mil votos — ou R$ 1,46 a unidade.

Os milionários do Paraná fracassaram nas urnas. Wilson Picler (PDT-PR) investiu R$ 2,43 milhões (quase a totalidade do próprio bolso) e conquistou 69 mil votos. Cada um custou R$ 35. Ficou como terceiro suplente da coligação que reunia grandes partidos, como o PMDB e o PT. Como suplentes da mesma coligação ficaram os candidatos do PMDB Odílio Balbinotti e Marcelo Almeida. Cada voto de Almeida custou R$ 20. Ele é também o candidato de maior patrimônio declarado: R$ 683 milhões. Marcelo é filho do lendário empresário Cecílio do Rego Almeida, dono da empreiteira CR Almeida.

Picler não acha que tenha desperdiçado o dinheiro: “Investi nesse ideal. Eu podia comprar um iate, uma mansão, mas não me sentiria feliz com isso. Eu me sentiria um covarde. Me sinto feliz, honrado em receber esses 69 mil votos”. Apesar do discurso, ele demonstra mágoas com o processo eleitoral. “Não tem campanha barata. É que o pessoal não pode declarar. Vai declarar a origem como? O mundo da política é um submundo de acertos, de ardilosidades.”

PV dividido nos estados
O PV é um partido dividido nos estados que decidem as eleições em segundo turno. Em nove unidades da Federação, a disputa pelos governos não terminou no dia 3 e, a exemplo do que ocorre na corrida presidencial, os verdes têm posições diferentes sobre quem apoiar na etapa decisiva das eleições. O partido está com candidatos que apoiam Dilma Rousseff (PT) em quatro unidades da federação. Em outros quatro estados, a legenda apoia os alinhados a José Serra (PSDB). Em Roraima, onde a disputa também foi para o segundo turno, o PV não participou de nenhuma chapa inscrita.

As realidades regionais repetem a divisão do partido em âmbito nacional e, mais do que isso, antecipam apoios antes mesmo da convenção nacional do PV, marcada para o próximo dia 17. Na convenção, 80 votantes vão decidir quem a sigla vai apoiar — Dilma ou Serra — ou se ficará neutra na disputa.

A ex-presidenciável Marina Silva, que recebeu 19,6 milhões de votos no primeiro turno, tende a ficar neutra. A executiva nacional vai na direção contrária da principal expoente do PV e quer apoiar Serra. Verdes e tucanos estão aliados há tempos em São Paulo, no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.

Nos estados onde há segundo turno, as lideranças do PV não querem esperar a convenção nacional para tomar uma posição. Na semana passada, dois candidatos do PV derrotados nas urnas anunciaram quem apoiam nesta etapa. Eduardo Brandão, que recebeu 78,8 mil votos no DF, declarou apoio ao candidato do PT, Agnelo Queiroz. Teresa Britto, que deixou a briga pelo governo do Piauí com 24,8 mil votos, apoia oficialmente o candidato do PSDB, Silvio Mendes.

Romário, se bobear, é “banco”
Com Romário (PSB-RJ) noCongresso, as peladas parlamentares nunca mais serão as mesmas. A chegada do baixinho à Câmara no próximo ano já movimenta a escalação do time de futebol formado por deputados. Frequentadores assíduos da pelada das terças-feiras pós-votação no plenário, no clube da Associação de Servidores da Câmara (Ascade), já especulam a lista de convocação com nomes do tetracampeonato mundial de futebol de 1994. Os reeleitos ainda lamentam o desfalque da equipe. Marcelo Ortiz (PV-SP) e Deley (PSC-RJ) não conseguiram renovar o mandato e deixarão o time sem dois titulares. Como Ortiz não volta, os deputados planejam escalar Romário no lugar do parlamentar de 75 anos.

Os dois têm estilo de jogo semelhante, segundo o deputado Zenaldo Coutinho (PSDB-PA), que também é atacante da equipe. “Nosso futebol teve algumas perdas. O Deley e o Marcelo Ortiz eram figuras exponenciais no time. O Ortiz é banheira, joga embaixo da trave do goleiro”, explica.

O deputado Júlio Delgado (PSB-MG) afirma que, apesar de ser estrela, Romário não terá vida fácil na seleção dos parlamentares. O deputado mineiro aposta na volta de Ortiz como suplente e diz que o deputado do PV é titular absoluto. “Ele não será só deputado novo, será colega de futebol novo. Não vai chegar, como ele diz, sentando na janela. O dirigente sou eu, o cartola sou eu. Vamos ver se damos a vaga do Ortiz para o Romário, mas se ele ficar marrento igual estava no fim de carreira, vai para o banco”, brinca Delgado.

Além de Romário, a nova Câmara contará com o ex-goleiro do Grêmio Danrlei (PTB-RS). A chegada do gremista ameaça a posição do deputado colorado Afonso Hamm (PP-RS). Ex-goleiro, com participação nas categorias de base do Inter, Hamm era o parlamentar com melhor histórico no futebol no grupo. Danrlei, contudo, chega para por fim ao reinado do deputado gaúcho no futebol parlamentar. “Nós estamos precisando de um goleiro, Danrlei já chega titular”, defende o “cartola” Júlio Delgado.

O parlamentar do PSB cogita organizar uma partida de boas-vindas aos eleitos em novembro, depois do segundo turno. “Retornando depois do feriado, vamos marcar um jogo com os eleitos, mesmo sem diplomação.”

Desde o início do recesso, na segunda quinzena de julho, o grupo não se reúne. A chegada das estrelas do futebol para a nova legislatura animou os atletas de fim de semana. A assessoria de Romário informou que o ex-atleta aceitará o convite se a partida for organizada com antecedência para que ele se desloque a Brasília. E se estiver na capital nas terças, marcará presença no futebol parlamentar a partir de fevereiro do próximo ano, quando assumirá o mandato.

O campo da Ascade pode marcar o reencontro da dupla do tetra: Romário e Bebeto. O deputado Zenaldo Coutinho conta que no futebol parlamentar é comum a participação de deputados estaduais convidados para “completar a equipe”.

Até os redutos estão rachados
O resultado das urnas goianas confirmou a divisão de forças no estado. Se, por um lado, Iris Rezende (PMDB) se destacou na região metropolitana de Goiânia, formada pela própria capital e por Aparecida de Goiânia, onde abriu 12% de vantagem à frente do adversário; de outro Marconi Perillo (PSDB) dominou o interior. O tucano ganhou em 176 dos 246 municípios, vencendo o adversário, na apuração final, por uma diferença de 300 mil votos (10% do total). A campanha rumo ao segundo turno em Goiás, portanto, começa com o eleitorado dividido. Mas não apenas geograficamente. Até nos redutos tradicionais de um e de outro, há divergências.

No conjunto habitacional Filostro Machado, obra de Iris em Anápolis batizada com o nome do próprio pai, em 1994, é possível ver adesivos de Perillo nos portões das casas e nos comércios do bairro. Morador do setor há 11 anos, onde é dono de uma padaria, Arthur Antonio do Nascimento Filho não tem dúvidas. “Voto no Marconi. Ele conseguiu linha de crédito para os pequenos empresários, fez um bom governo aqui”, diz o paraibano de 48 anos. Para o prefeito Gomide, a resistência ao nome de Iris entre a população anapolina tem relação com as administrações ruins do PMDB na cidade. O grande trunfo agora será mostrar à população as vantagens de ter prefeito, governador e presidente aliados, já contando com a vitória de Dilma Rousseff na disputa nacional.

Para Lenita Dias de Assunção Almeida, o argumento das esferas coordenadas nem é necessário. Ela faz parte de um tipo de eleitor cativo de Iris: o que recebeu das mãos do pemedebista o lote no Filostro Machado. “Eu sou Iris até morrer porque ele dá condições ao povo de melhorar, ele te dá a vara para você pescar. O Marconi, não. Esse fica fazendo política para os seus”, critica a anapolina de 41 anos, que exibe, no portão de casa, a sua preferência por meio de adesivos.

Com o objetivo de tentar convencer eleitores como Lenita, que associa o candidato do PMDB às demandas mais populares, o núcleo de marketing da campanha de Perillo pretende reforçar, na propaganda eleitoral, as propostas do tucano por meio de uma linguagem simples e direta.

“Queremos falar de forma mais didática no programa de TV e também trazer inovações no formato”, adianta o deputado federal Leonardo Vilela, presidente licenciado do PSDB em Goiás. Produtor da propaganda eleitoral e homem de confiança de Iris, Hamilton Carneiro também promete novidades, especialmente voltadas a um eleitor muito resistente. “O jovem não conheceu a administração do Iris, que ocupou o cargo de governador há 16 anos. Então, vamos investir em coisas mais criativas”, conta.

Todas as mágoas do PMDB
“Eles nos tratoraram.” Assim, os deputados peemedebistas se referiam em conversas e reuniões fechadas ao longo da semana ao sentimento que o resultado das eleições lhes deixou em relação ao principal aliado, o PT. Tarimbados em sentir o cheiro da traição e da ação coordenada em busca de um objetivo, eles perceberam em alguns locais movimento estrategicamente ensaiados entre PT e PSB para tirar dos peemedebistas o pódio de maior bancada da Câmara. O efetivo é fundamental para garantir o maior tempo de TV das próximas eleições, em 2012 e 2014, além de permitir controle sobre o Legislativo.

O que deixou em todos a sensação de que “aí tem” foi o fato de os deputados terem recebido no dia da eleição uma mensagem de texto dos deputados Cândido Vaccarezza e Arlindo Chinaglia, ambos do PT de São Paulo, desejando sorte aos colegas. E, como em política um gesto vale mais que mil palavras, os peemedebistas foram às urnas certos de que os dois são hoje candidatíssimos à Presidência da Câmara. E mais: vão propor deixar para o PMDB a Presidência do Senado, onde o projeto de Lula de desancar os tucanos deu certo, mas não o suficiente para entregar ao PT a maior bancada.

A revolta era maior entre representantes de estados em que o PMDB sempre conquistou mais deputados que o PT e agora ficou com menos. No Pará, por exemplo, o PMDB geralmente elegia o dobro de deputados do PT. Em 2006, foram seis peemedebistas eleitos e três petistas. Agora, o PMDB perdeu dois e o PT ganhou um. Ainda que Jader Barbalho, do PMDB, bom puxador de votos, não tenha concorrido à Câmara, os paraenses reclamaram porque a governadora-candidata, Ana Júlia, entrou nos redutos eleitorais do PMDB disposta a queimar os votos. Tanto é que agora terá dificuldades em atrair apoios para esse segundo turno contra o tucano Simão Jatene. “Se forem lá ajudar a Ana Júlia eu voto no Serra”, comentou um parlamentar do partido.

No Paraná, embora aliados na eleição estadual em torno da derrotada candidatura de Osmar Dias (PDT) ao governo estadual, PT e PMDB passaram a campanha para a Câmara numa briga de foice pela eleição de deputados. O PMDB viu sua força cair de oito para seis cadeiras e o PT subiu de quatro para cinco. No Espírito Santo, de quatro sobraram dois. Apenas Rose de Freitas, que tem tradição na politica estadual, e Lelo Coimbra, médico sanitarista que já ocupou vários cargos executivos.

Aliança PSDB e PT naufragou
Há 21 anos, quando foi realizada a primeira eleição presidencial em dois turnos, PT e PSDB estavam juntos para tentar eleger Luiz Inácio Lula da Silva, que disputava o Planalto com o alagoano Fernando Collor de Mello — à época no PRN. Os tucanos se aliaram aos petistas na segunda fase da campanha, assim como fez Leonel Brizola (PDT), um ícone da política nacional, que por pouco não foi ao segundo turno com Collor. O PT de Lula rejeitou o apoio do PMDB, que amargou uma sétima colocação no primeiro turno com Ulysses Guimarães, um líder político da época, mas que vinha se desgastando com o governo de José Sarney. Os outros partidos liberaram seus correligionários para escolher o melhor candidato.

Mário Covas, então candidato do PSDB, logo que perdeu a eleição — ficou na quarta colocação — manifestou seu apoio a Lula, unindo-se a Brizola, que havia obtido o terceiro lugar. Do lado de Collor, ficaram outros partidos, como o PDS, pelo qual Paulo Maluf disputou a Presidência da República. Outros postulantes ao cargo, como Ronaldo Caiado, Fernando Gabeira e Guilherme Afif Domingos deixaram seus eleitores à vontade.

Enquanto os brasileiros se divertiam com Tieta, a novela da TV Globo que estreou na metade de 1989, os políticos começavam os seus contatos visando o segundo turno ainda na primeira etapa das eleições. Em sua última propaganda nas emissoras de TV, Ulysses Guimarães parecia perceber que não havia nenhuma chance para ele se tornar o presidente do país. E estava inclinado a apoiar Lula, a quem tinha um grande apreço. Mas o PT, por meio de José Genoino, recusou qualquer parceria envolvendo o PMDB e, consequentemente, Ulysses.

Coluna Brasília-DF – Bismarck
Como se sabe, o encouraçado da oposição no Senado foi a pique. Naufragaram os almirantes Heráclito Fortes (PI), Marco Maciel (PE), Efraim Morais (PB), do DEM; Arthur Virgílio (AM), Tasso Jereissati (CE) e Papaléo Paes (AP), do PSDB; e Mão Santa (PI), do PSC.

Titanic
Também foi de grandes proporções o naufrágio da oposição nas eleições para a Câmara. Ficarão sem mandato, entre outros, João Almeida (BA), Luiz Paulo Vellozo Lucas (ES), Rita Camata (ES), Raquel Teixeira (GO), Bonifácio de Andrade (MG), Affonso Camargo (PR), Gustavo Fruet (PR), Marcelo Itajiba (RJ), Sílvio Lopes (SP), Albano Franco (SE), Antonio Carlos Pannunzio (SP), Arnaldo Madeira (SP), Silvio Torres (SP), Walter Feldman (SP), do PSDB; José Carlos Aleluia (foto), da Bahia, Alberto Fraga (DF), Alceni Guerra (PR), Cassio Taniguchi (PR) e Márcio Junqueira (RR), do DEM; Augusto Carvalho (DF), Humberto Souto (MG), Raul Jungmann (PE), Fernando Coruja (SC) e Nelson Proença (RS), do PPS. Eram comandantes da oposição.

Copa de 2014
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) não vai liberar os recursos para a construção da Arena Amazônia enquanto houver indícios de irregularidade na obra. Valor do empréstimo para o complexo esportivo: R$ 400 milhões.

Risco
Sob comando do governador eleito Geraldo Alckmin (foto), do PSDB, os tucanos paulistas preparam a visita de José Serra ao santuário de Nossa Senhora da Aparecida, em 12 de outubro, dia da Padroeira, um dos maiores eventos religiosos do país. Apesar do convite do arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno Assis, que organiza o evento, essa agenda é um programa de alto risco. É muito fácil organizar uma vaia entre os milhares de fiéis. A petista Dilma Rousseff também foi convidada, mas está em dúvida se vai comparecer. Congresso em Foco

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