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O tempo se abriu com os acordes das sanfonas e até as flores ganharam mais cor. Sob sol forte e a temperatura beirando 25 graus, uma senhora, de cabelos grisalhos e desenhos de rugas acentuadas ao redor dos olhos, passou delicadamente as mãos pelos cabelos lisos, da testa para a nuca, de forma a ajeitar o coque preso com grampos. Aproveitou para secar a ponta de lágrima teimosa e persistente, a descer pela face e denunciar emoção.
Além de clássicos da música popular brasileira, o Grupo de Acordeão Evelina Grandis, de Londrina, assanhou também com um tango. E foi nesse momento que alguém improvisou alguns passos após chamar uma parceira. O ato acabou de vez com a timidez dos presentes. Além do tango, o grupo londrinense, formado por uma maioria de mulheres, prestigiou talentos cambeenses. Joaquim Inocente, o Tim, e Antonio Sinsic, o Polaco, também demonstram suas habilidades e talentos no acordeom.
O Grupo de Acordeão Evelina Grandis tem como diretora-geral Sonia Swenson Grandis Lepri, filha daquela que foi a primeira professora de sanfona de Londrina. Evelina, que chegou ao Norte do Paraná em 1946, faleceu em 1985. Deixou admiradores. Deixou herança e a presença do próprio grupo dirigido pela filha no Calçadão de Cambé, como parte da programação do Festival de Música de Londrina, é a prova concreta de que o seu ensinamento multiplica-se.
Não somente isso. A apresentação não reuniu uma multidão desesperada por ritmos que marcam um tempo de modismo. Tampouco estimulou danças de passos ensaiados sob melodias repetitivas e letras vulgares. O Grupo Evelina Grandis mostrou com suas sanfonas muita qualidade, mas sem os requintes e as sofisticações dos grandes concertos. Mostrou, enfim, o que os ouvidos das pessoas de coração grande gostam de ouvir.
Dona Cidinha, tocadora de castanhola, se fez de porta-voz dos sanfoneiros. Mãe e avó de jornalistas, conforme confidenciou após o show, dona Cidinha lembrou, inclusive, que antes as mocinhas esperavam pela chegada dos namorados nas janelas das casas. “Hoje o namoro é pela internet”, desabafou ao microfone.
Então algumas pessoas entre o público improvisaram passinhos. A mesma mulher que foi parceira no tango se abraçou a uma conhecida e dançou valsinhas. Um cantor não se conteve e soltou a voz no microfone, acompanhado pelas sanfoneiras.
O espetáculo agradou os presentes. Arrancou aplausos, despiu pessoas que se entregam ao mau humor a ponto de elas esboçarem sorrisos. E não conteve lágrimas discretas de emoção, de saudades, de querer sentir o que os ouvidos captam e encher o coração de um sentimento bom que só a música de qualidade, executada com força e garra, consegue proporcionar.
O espetáculo do Grupo Evelina Grandis em Cambé teve a parceria da Fundação Cultural e Artística. A promessa é de mais muito em breve.