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domingo, novembro 17, 2024

Convivendo com um autista: saiba como identificar os primeiros sinais, os possíveis tratamentos e os direitos dessa população

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O mundo é plural. As pessoas são plurais. Todos os dias encontramos pessoas diferentes da gente, seja pela cor da pele, da textura do cabelo, da altura ou do peso; e também dos gostos, que preferem doce ou salgado, praia ou piscina, cidade ou campo. A pluralidade é um fator que nos marca, mas que não nos define, não nos faz diferentes, afinal, somos todos compostos de partículas, das menores, como os átomos, até as maiores, como as células, os órgãos e os tecidos. Somos feitos de água, com estrutura óssea e um coração que trabalha incansavelmente; e respiramos oxigênio, que a natureza nos presenteia na maior boa vontade.

Com o passar dos séculos, diversas condições, síndromes ou transtornos foram sendo descobertos, assim como seus respectivos tratamentos. A medicina vem evoluindo e permitindo que condições antes subnotificadas pudessem, agora, ter um diagnóstico mais certeiro e eficiente, que aumenta a qualidade de vida da população e diminui o preconceito que ainda circula na sociedade.

Neste sábado, dia 02 de abril, é celebrado o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, que busca garantir ações específicas em prol dessa população e na luta para que cada vez mais sejam desenvolvidas políticas que assegurem os direitos dos autistas. Como cor símbolo, o azul foi escolhido porque o transtorno atinge mais homens do que mulheres, em uma proporção de quatro homens para cada mulher.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um dos transtornos com mais incidência no Brasil e no mundo. No país, estima-se que dois milhões de pessoas convivam com o autismo; no mundo, cerca de 2% das crianças nascem com o transtorno. A cada ano o número de diagnósticos vem crescendo, principalmente por conta da maior difusão de informações e de dados sobre o autismo, dos atendimentos especializados e das novas formas de perceber os sinais do transtorno. Felizmente, o autismo, agora, vem sendo tratado cada vez mais de forma humana, abandonando estereótipos que antes marginalizavam pessoas dentro do espectro autista e de tantas outras síndromes, deficiências e transtornos.

Sinais

O autismo é caracterizado por alterações no desenvolvimento da criança, com manifestações comportamentais, dificuldade para se concentrar, comunicar ou interagir com outras pessoas. Os primeiros sinais do Transtorno do Espectro Autista, na maioria das vezes, são notados ainda nos anos iniciais de vida da criança, entre dois e três anos de idade. O autismo tem mais incidência entre o sexo masculino, mas pode acometer qualquer pessoa, independente do gênero ou da etnia.

Outro sinal que pode ser identificado entre as pessoas portadoras de autismo é o comportamento repetitivo, com ações padronizadas e repetidas em sequência. Os pais devem ficar atentos a sinais como esses, principalmente quando a criança só come determinados alimentos, que devem ser organizados da mesma forma e no mesmo recipiente. Esse repertório restrito também pode se aplicar às atividades e brincadeiras, que são sempre iguais e com as mesmas pessoas, sendo um das principais características de crianças com o espectro autista.

Tratamento

O autismo, assim como outros diversos tipos de síndromes, transtornos e deficiências, não tem cura, mas o tratamento é um fator essencial para uma melhora na qualidade de vida do paciente, assim como da família. O tratamento não é composto por um único profissional, mas por um grupo multiprofissional que atua junto para contribuir na melhora do quadro do paciente. O tratamento é individualizado, mas, na maioria das vezes, inclui neurologista, psiquiatra, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, psicólogo e terapeuta ocupacional, podendo variar conforme cada paciente e linha de tratamento determinada.

Em relação às atividades, a rotina do autista pode ser composta por terapias, como musicoterapia, aromaterapia e equoterapia, além da acupuntura. Essas atividades podem aliviar algumas das manifestações que os autistas podem apresentar, como a rejeição contra determinados barulhos, cheiros e animais. Além disso, elas trabalham para impulsionar alguns dos sentidos dos autistas, como a audição, a fala e o olfato. O objetivo não é fazer com que ele aprenda a tocar um instrumento ou participe de competições de equitação, por exemplo, mas que consiga melhorar a relação com tudo que compõe a sua rotina e a sua vida.

Uma alimentação balanceada e a prática de atividades físicas são aliadas em qualquer situação e devem ser seguidas por toda a população, independente de ter alguma condição ou não. Por isso, a alimentação deve ser composta de alimentos saudáveis e ricos em nutrientes. Em alguns casos, principalmente entre a faixa etária mais jovem, o autista só come determinados alimentos, que devem ser alterados para a forma mais saudável possível, substituindo bolachas e salgadinhos industrializados por frutas e legumes coloridos, que conseguem atrair a criança.

Os exercícios físicos também são importantes, principalmente para estimular uma vida mais saudável e longe do sedentarismo e da obesidade. As atividades físicas não precisam parecer uma atividade física, pois podem aparecer com uma brincadeira ou um esporte, em que os gostos e as predisposições das crianças podem ser levadas em conta.

Níveis

O Transtorno do Espectro Autista pode se apresentar de diferentes formas, dependendo do nível em que cada paciente se enquadra. Os pacientes com quadros mais leves, como o nível 1, podem nem mesmo ser diagnosticados devido a falta de sintomas ou, se diagnosticados, conseguem realizar todas as atividades do dia a dia, sem muita dificuldade. Em alguns casos, o autista com grau leve do transtorno pode apresentar dificuldade para se comunicar ou na interação social, mas que não atrapalham o convívio.

Já para os pacientes com quadros moderados ou graves, eles podem conviver com crises epilépticas, agressividade elevada e grande dificuldade na comunicação e na interação social. Nesses casos, os autistas necessitam de ajuda para realizar atividades cotidianas e precisam de acompanhamento mais específico, buscando sempre controlar quadros epiléticos e/ou agressivos. O uso de determinados medicamentos também são fundamentais nesses níveis, mas que são prescritos individualmente para cada paciente pelos médicos responsáveis pelo acompanhamento.

Convivendo com o autista

A família deve estar atenta a todos os sinais que os autistas apresentam, principalmente quando dizem respeito às habilidades que podem ser desenvolvidas. O autista pode ter propensão à música, à dança, ao desenho ou outras manifestações artísticas e esportivas. A família e a equipe multiprofissional costumam trabalhar essas questões, incentivando o desenvolvimento das habilidades, que ajudam no tratamento de casos mais graves.

O autista tem uma maior sensibilidade às mudanças, então planejar uma rotina específica, sem alterações repentinas, com todas as atividades e horários para as refeições e para dormir são importantes para evitar o desencadeamento de crises. Assim como a organização da casa deve ser pensada no autista, deixando de lado móveis e outros objetos de decoração que não são essenciais.

Direitos

Sancionada pelo ex-prefeito José do Carmo Garcia, a Lei de número 2.961, de 16 de julho de 2019, garante um atendimento prioritário aos  portadores de Transtorno Espectro Autista (TEA) em Cambé. Isso porque tanto os estabelecimentos públicos quanto os privados, que estão situados no município, devem aplicar estratégias para agilizar e flexibilizar a passagem desse público por espaços do setor comercial, industrial, empresarial ou prestadores de serviços.

Conforme as determinações previstas pela lei, pessoas com TEA não precisam enfrentar filas comuns. Elas detêm o direito, inclusive, de ocuparem vagas preferenciais em estacionamentos ligados aos órgãos públicos ou administrados pela iniciativa privada. Seus responsáveis também podem usufruir das vagas, isso quando estiverem com os tutelados e estejam portando a credencial emitida pelo município.

O Departamento de Postura é o órgão que fiscaliza a aplicação dessa lei e aplica penalidades em caso de irregularidades. Caso descumprir as exigências legais citadas acima, o proprietário do estabelecimento pode vir a ser punido com advertência, cassação do alvará de funcionamento e a suspensão das atividades pelo período de 30 dias.

A nível federal, os  direitos de participação cidadã das pessoas com deficiência são amparados pela Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência, também chamada de Estatuto da Pessoa com Deficiência. O dispositivo legal, datado de 6 de julho de 2015, estipula táticas de acessibilidade para que esse público consiga integrar os mais variados setores sociais.

A lei, inclusive, é tida como um instrumento de combate contra os obstáculos que impedem, por exemplo, a locomoção, o alcance dos produtos da comunicação, a educação escolar e o acesso aos eventos culturais e esportivos.

O Estatuto reafirma ainda o direito de moradia estruturalmente adaptada e  assistência para a vida pessoal e escolar. São estratégias que garantem que essas pessoas levem uma vida autônoma, mas contem com mecanismos de apoio caso precisem.

Serviços

No município de Cambé, os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) atendem crianças e adultos com o Transtorno do Espectro Autista, assim como outros transtornos, deficiências e síndromes. O Caps infantil, no momento, atende 36 crianças e adolescentes autistas, oferecendo oficinas lúdicas, atividades físicas, brincadeiras e atendimento individualizado, além de avaliação psiquiátrica contínua. Em alguns casos, o Caps faz o encaminhamento para a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, a Apae, que também é um serviço de referência para este público.

O telefone para contato do Caps é o 3174-0308 ou 3174-0239.

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