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Dos 16 assassinatos cometidos em 2013, sete foram tiveram essa motivação, inclusive as únicas três mortes violentas computadas no mês de novembro, segundo o delegado da Polícia Civil
Um dos casos aconteceu no último dia 22, quando uma jovem de 17 anos foi morta a tiros pelo ex-namorado, inconformado com o fim do relacionamento. Ela estava trabalhando em um supermercado quando o rapaz, de 21 anos, tentou levá-la para dentro do carro. A adolescente resistiu, e depois de ter sido conduzida à força, levou dois tiros – um deles na cabeça – quando tentou fugir.
Os casos de crimes passionais não fazem parte das estatísticas oficiais da Polícia Civil no Paraná. As ocorrências são registradas como ameaça, agressão física e, no extremo, homicídio, mas sem uma tipificação específica. Para o delegado Jorge Barbosa, porém, o número crescente de casos chamou atenção. Na opinião dele, o aumento na ocorrência de crimes passionais é generalizado. “O povo não está mais levando desaforo pra casa. Não é só aqui não, é em todo lugar. Ainda tem muita gente que leva essa coisa da honra às ultimas consequências”, disse.
A opinião é a mesma da promotora Suzana Lacerda, da 6ª Vara Criminal de Londrina, conhecida como Vara Maria da Penha por conta da lei que prevê punições a agressores de mulheres. O problema, segundo ela, é cultural. “Existe uma ideia de que o homem está autorizado a agredir a companheira se ela o trair, por exemplo. Isso é questão de educação, de uma cultura que persiste em achar correto o pai que diz para os amigos ‘prenderem as cabritas porque o bode dele está solto’.”
Ela classificou o aumento no número de registros de agressões na Vara Maria da Penha como alarmante. Em parte, o crescimento das ocorrências se dá na maior participação das vítimas. Em outros casos, como explicou a promotora, o registro é feito independente da vontade da mulher. Casos em que as vítimas dão entrada em hospitais e postos de saúde com sinais de violência doméstica são automaticamente comunicados à Justiça.
Impunidade
A falta de punição, mesmo com uma lei específica para combater os crimes contra a mulher, parece favorecer o aumento de casos de crimes passionais. É o que afirma o psicólogo Alex Gallo, que estuda a violência. Para o especialista, a política de repressão não teve resultados. “Está tendo uma percepção por parte dos agressores de que a punição não está funcionando. Então, voltaram a fazer o que faziam antes da lei [Maria da Penha]”, avaliou.
A pouca idade das vítimas, e também dos agressores, pode ser sintoma de uma mudança de perfil das novas gerações, aponta Gallo. “Essa geração não sabe lidar com consequência, acabam sendo imediatistas. Até a própria exposição da vida privada na internet, qualquer coisa gera um ciúme, um sentimento com o qual eles não sabem lidar e acham que matando vai resolver.”
As novas tecnologias podem favorecer a ocorrência de crimes, apontou a promotora Suzana Lacerda. Aplicativos como o Lulu, no qual as mulheres podem avaliar a performance masculina e atribuir notas aos parceiros, podem ser gatilhos para casos de agressões. “Não me surpreenderia se houver um aumento nas ocorrências por conta de programas como esses.”
Fonte Jornal JL