Impacto da seca vai além da falta de água: prejudica agricultura, saúde e agrava riscos de incêndios

A implementação do rodízio e o alerta para uso racional da água foram adotados pela Sanepar para mitigar os efeitos da crise hídrica que atinge o Paraná há mais de um ano, uma estiagem sem precedentes pelo menos nos últimos 50 anos.

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A partir desta quarta-feira (25), o abastecimento de água em Jandaia do Sul, no Vale do Ivaí, entrará em sistema de rodízio, no modelo 24 horas com água e 24 horas de suspensão. Na quinta (26), a população de Jardim Alegre, na mesma região, também passará a ser abastecida em sistema de rodízio.

Atualmente, 14 cidades da Região Metropolitana de Curitiba, incluindo a Capital, têm o fornecimento de água durante 36 horas, com suspensão de até 36 horas. E Pranchita e Santo Antônio do Sudoeste estão em rodízio mais ameno, com suspensão do abastecimento durante oito horas a cada quatro dias.

Outras cidades do Estado seguem em alerta no abastecimento. No Norte Pioneiro, Santo Antônio da Platina, Ibaiti, Quatiguá, Siqueira Campos, Carlópolis e Jacarezinho. Na Região Oeste/Sudoeste, Goioerê, Iretama e Medianeira. Em Cascavel, desde o início do mês, a Sanepar passou a utilizar a captação do Lago Municipal para complementar a produção e atender a demanda da cidade.

A implementação do rodízio e o alerta para uso racional da água foram adotados pela Sanepar para mitigar os efeitos da crise hídrica que atinge o Paraná há mais de um ano, uma estiagem sem precedentes pelo menos nos últimos 50 anos. Chuvas abaixo da média têm reduzido a vazão de rios e poços utilizados para abastecimento humano.

O rodízio tem evitado que sistemas de abastecimento entrem em colapso, permitindo que a água seja distribuída de forma regular para toda a população e não prejudique, assim, moradores das regiões mais altas e distantes dos pontos de distribuição.

O diretor de Meio Ambiente e Ação Social da Sanepar, Julio Gonchorosky, destaca que a condição atual evidencia os graves efeitos da degradação ambiental em todo o planeta. “Além de fazer uso racional da água, se faz necessária a preservação de florestas e mananciais. No caso da Região Metropolitana de Curitiba, por exemplo, é imperiosa a preservação da Serra do Mar, que garante água para abastecimento público na região”.

A seca provoca impactos que vão além do fornecimento de água para abastecimento público. Já são contabilizadas perdas consideráveis na produção agrícola, há um aumento na ocorrência de incêndios em todo o Estado e também da incidência de problemas de saúde.

No início de agosto, o governo estadual publicou o quarto decreto de emergência hídrica no Paraná, em sequência, reconhecendo a gravidade da estiagem e que prioriza o uso da água para abastecimento humano e dessedentação animal.

Em julho, houve 1.505 focos de queimadas no Paraná, 125% a mais que no mesmo mês do ano passado, quando 669 ocorrências foram confirmadas. Nos primeiros dias de agosto, as ocorrências mais do que dobraram, passando de 674 registros entre os dias 1º e 8 de agosto, contra 329 no mesmo período de 2020.

O alerta de risco alto de incêndio continua vermelho na maior parte do Estado, conforme mapa divulgado no fim de semana pelo Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar).

“Essa situação severa para a rápida propagação de incêndios ambientais deve-se à combinação de alguns fatores, como ausência de chuvas, umidade do ar mais baixa e temperatura. Esse cenário só muda com a ocorrência de chuvas mais volumosas no Estado. Embora esse período seja historicamente mais seco, também temos o agravante de uma crise hídrica que perdura há mais de um ano”, afirma o coordenador de Operação do Simepar, meteorologista Marco Jusevicius.

PERDAS AGRÍCOLAS – No Paraná, as perdas provocadas pela estiagem repercutem em toda a cadeia alimentar. Sem chuvas significativas no momento do plantio de grãos, muitos produtores atrasaram a semeadura, fazendo com que a produção sofresse impacto de pragas e de geadas fora dos ciclos convencionais.

A quebra na produção de milho foi de 58% na segunda safra em relação ao mesmo período da cultura no ano passado. Segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, a estimativa inicial era colher 14,6 milhões de toneladas de milho em 2,5 milhões de hectares no estado. Sem chuvas suficientes, os agricultores paranaenses colheram 6,1 milhões de toneladas na mesma área plantada. Isso significa um prejuízo de R$ 12 bilhões na economia.

O chefe do Deral, Salatiel Turra, explica que como consequência o grão está 124% mais caro do que no ano passado, com reflexos na criação de frango, peixe e porco. “O milho é a principal proteína na produção de frango, por exemplo. Os produtores terão que importar o grão, causando impacto no preço dos alimentos para o consumidor final”, afirma.

Maior produtor de feijão no país, o Paraná também viu diminuir em 48% a colheita das duas primeiras safras deste ano. Das 539 mil toneladas esperadas, foram colhidas 282 mil toneladas. “Estamos vivendo uma das piores secas dos últimos tempos, com redução bastante significativa na produção e na produtividade agrícola. Os produtores rurais ficam descapitalizados e diminuem o consumo, impactando toda a economia”, diz Salatiel Turra.

SAÚDE – O tempo seco contribui para o ressecamento da mucosa das vias aéreas, o que acaba facilitando o surgimento de alergias, asma, bronquite, dermatites, gripes e resfriados. E como consequência infecções bacterianas secundárias como pneumonia, sinusite, otites e laringites, segundo o pneumopediatra José Orlando Nonino, de Londrina. Como prevenção às doenças respiratórias, o médico indica boa alimentação e a ingestão de água regularmente.  “A criança deve receber líquidos várias vezes ao dia. Esses líquidos podem ser o leite, o suco, mas, principalmente, água”.

Ele aconselha também o umidificador de ambientes, mas, preferencialmente, o uso de uma toalha úmida na janela, cabeceira ou cadeira perto da cama do quarto de dormir.

Os idosos também sentem mais os efeitos da estiagem. Rinite, sinusite e asma acometem mais esse público neste período, ou se agravam com a baixa umidade do ar, segundo a geriatra Cristina Ferreira Lima Disconzi, de Guarapuava.

“Problemas das vias aéreas superiores se tornam mais comuns. Em relação aos idosos, é preciso ficar atento à hidratação. A falta de água no organismo causa alterações renais, infecções urinárias e até o que chamamos de delirium, uma confusão mental ou mudança de comportamento devido à ocorrência de infecções”, alerta a geriatra.

EFEITOS CLIMÁTICOS – As mudanças do clima, que estão afetando todas as regiões do mundo, não têm precedentes – segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU) ao divulgar no início de agosto o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Este é o mais importante relatório sobre ciência climática dos últimos sete anos, recolhendo estudos compilados por pesquisadores do mundo todo.

Os efeitos são eventos climáticos extremos mais frequentes e mais severos como ondas de calor, chuvas fortes e secas em todas as partes do mundo. Segundo o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Lincoln Alves, que trabalhou no relatório, as observações das últimas décadas mostram que o clima do Brasil está mudando.

“Todas as regiões tiveram aumento nas temperaturas médias. O intervalo entre os eventos extremos está diminuindo e estão se tornando cada vez mais fortes. Antes, quando se falava em seca, pensava-se no semiárido nordestino. Hoje fala-se em seca na Amazônia, no Sudeste e no Sul do Brasil”, afirma.

Dicas de econimia de água:

Feche a torneira – Ao lavar as mãos ou a louça, não deixe a torneira aberta todo o tempo. Isso evitará que vários litros de água tratada sejam desperdiçados.

Hora do banho – Seja rápido no banho. Cada 5 minutos embaixo do chuveiro ligado consomem aproximadamente 70 litros de água.

Basta um copo – Para escovar os dentes é necessário apenas um copo de água. Feche a torneira.

Use a vassoura – Antes de lavar a calçada, use vassoura. Jamais use a água potável para esse serviço. Reaproveite a água da lavagem de roupa ou da chuva.

Economia – Diminua as descargas. Regule periodicamente a válvula hidra ou a caixa de descarga. Coloque uma garrafa pet com água ou areia dentro da caixa de descarga acoplada. Se a garrafa for de 1,5 litro, a cada descarga, você economia 1,5 litro de água.

Lavando roupa – Junte roupas para lavar todas de uma só vez. Aproveite a água usada no tanque ou na máquina para lavar calçadas.

Tá Pingando – Os maiores ladrões de água são vazamentos, torneira pingando e descarga desregulada. Faça manutenção regularmente.

Carro – Em época de estiagem não lave o carro. Reaproveite água da chuva ou de lavagem de roupas para fazer a limpeza.

Fazendo a barba – Não faça a barba com a torneira aberta. Use a água somente para molhar e enxaguar o rosto.

Tá na mão – Lavar as mãos com a torneira aberta o tempo todo causa um grande desperdício. Ao ensaboar as mãos, deixe a torneira fechada.

Reaproveite – A água do último enxágue das roupas, no tanque ou na máquina, pode ser usada para ensaboar tapetes, tênis, cobertores, pisos e calçadas.

Gaste menos – Ao lavar a louça, encha a cuba de água e deixe-a fechada. Evite deixar a torneira aberta, enxágue a louça toda ao final da lavagem. Assim, o gasto de água é bem menor.

Agência Estadual de Notícias

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