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A Faculdade Paraná, com sede e atuação em Cambé, divulgou uma pesquisa do curso de Pedagogia que trata sobre o não acompanhamento familiar do filho na escola, no processo educacional, isto é, da Relação Escola, Família e Comunidade. A pesquisa foi coordenada pelo Prof. Joaquim Pacheco de Lima, mestre em Filosofia Contemporânea e Ciência Sociais, docente de Políticas Públicas e Filosofia da Educação.
Relata e pesquisa que o município de Cambé, com uma população de 107. 905 (2018) habitantes, convive com uma população de adolescentes e jovens denominados de “jovens nem nem”, nem trabalha, nem estuda. As estudantes de pedagogia identificaram alto índice de evasão, abandono escolar de adolescentes nas faixas de 11-13 e 15-16 anos.
O Programa de Sócio educação (no apoio à adolescentes que cumprem medidas socioeducativas) coordenado pelo CREAS (Prefeitura/Assistência Social), conforme relatório (2018), tem identificado aumento de 32% no número de jovens envolvidos com o tráfico de drogas e abandono escolar. |
Prof. Ms. Joaquim P. Lima |
Um dos motivos do abandono escolar é o não acompanhamento da família ao desempenho do adolescente/jovem na escola.
O problema e objetivo da pesquisa foi de identificar os fatores do não acompanhamento familiar do processo educacional do filho na escola. A amostra da pesquisa com as famílias levou em conta a estratificação por regiões, renda, ocupação, etc. na busca da cientificidade dos dados.
É fato que nas reuniões pedagógicas de pais, professores e diretoria nas escolas para tratar sobre desempenho escolar dos alunos, quase sempre os que participam, comparecem são os pais/responsáveis de filhos com bons desempenhos. Ausência dos que estão com dificuldades, em situação de risco ou problemas disciplinares. Na análise simplória, do senso comum, de alguns que rotulam as famílias ausentes de forma moralista, preconceituosa (família de vagabundos e irresponsáveis), não distinguindo no fenômeno o que é aparente com o essencial, causa e efeito, manifestação do presente e passado, o que é singular com o estrutural. Não significa negar a responsabilização da família ausente, mas buscar fundamentos dos motivos e causas da ausência.
As teorias que fundamentaram a pesquisa foram de autores clássicos da educação: Paulo Freire (2015); Demerval Saviani (2011); Mário Sérgio Cortella (2016); Paolo Nosella (2017); Vitor Paro (2010) e outros. Vale destacar a teoria da negligência, da percepção do Diferente, do Outro na Sociedade, do pensador sul coreano, Byung-ChulHan na obra “A Expulsão do Outro”,2018.
Na busca das causas, dos fatores que levam a família a não acompanhar o desenvolvimento do filhona escola, as frequências nos eventos escolares são de 55,1% por algumas as vezes e pouco e somente 33,2% muito. Nunca compareceram na escola foram de 8,1%.
As dificuldades que não permitiam a participação e interação das famílias com a escolas identificadas na pesquisa foram: a) horário dos eventos escolares incompatível com o trabalho (67,3%); b) considerar que o evento/atividade escolar não necessário e irrelevante a participação (7,6%); c) não se sente bem no ambiente escolar. Sente vergonha (6,3%); d) não entende, não compreende o que é abordado nas atividades, reuniões na escola (4,5%); e) não respondeu (14,3%).
A frequência da família nos eventos tem fatores objetivos e subjetivos, quanto a limites da família na reprodução de existência material, bem como da instituição escolar em não se adequar ou perceber as condições reais das famílias.
Quanto a concepção das famílias sobre as competências, funções das instituições (escola, família, igreja, comunidade, sociedade) na educação dos filhos, veja a Figura 1:
Figura 1. É DEVER DE QUEM EDUCAR O FILHO(a)?
a) escola | b) família | c) família e escola | d) os diversos ambientes (comunidade, igreja e sociedade) | e) não respondeu |
13,5% | 45,3% | 28,7% | 9,9% | 2,7 |
A compreensão das famílias, conforme a pesquisa, de que há nelas uma centralidade quanto a educação (45,3%),Figura 1, por outro lado, baixo peso quanto à escola (13,5%). Ambas, família e escola tem uma certa parceria (28,7%), Figura 1.
A questão fundamental da pesquisa, os fatores do não acompanhamento da família no processo educacional do filho na escola, desconsiderando os preconceitos, oriundos da sociedade desigual, a investigação revela:
Figura 2. QUAIS OS FATORES DO NÃO ACOMPANHAMENTO DA FAMÍLIA NO PROCESSO EDUCACIONAL NA ESCOLA?
a) A família desconhece a distinção/diferença de papéis e funções da família e da escola no processo educacional do(a) filho(a). | 21,5% |
b) Ruídos na interação (isto é, na comunicação pedagógica) da atividade escolar na escola com o(a) filho(a). | 13,9% |
c) Sentimento de rotulação, discriminação e preconceito no ambiente escolar por ter filho em situação de vulnerabilidade. | 22,4% |
d) Não preocupação. | 24,7% |
e) Acompanha o(a) filho(a) na escola. | 17,5% |
Os fatores do não acompanhamento, enquanto hipótese, o desconhecimento dos papeis e funções da família e da escola, os ruídos de comunicação na interação escola e família, o sentimento de família rotulada, a despreocupação com o desempenho do filho e o acompanhamento regular são elementos condicionantes e provocantes de dissociação família, escola e comunidade.
A pesquisa identificou que os fatores determinantes pelo não acompanhamento e participação familiar nos eventos na escola do filho são múltiplos.
A não preocupação (24,7%), Figura 2, pelo desempenho do filho tem conexão com o desconhecimento sobre os papeis e funções da escola e família (21,5%), Figura 2, enquanto fatores causais.
Na busca sem fundamentos dos motivos e causas essenciais de fundantes da ausência da família, muitos rotulam as famílias de irresponsáveis e vagabundos. Tais atitudes afastam as famílias da escola e produzem sentimento de rotulação, discriminação e preconceito no ambiente escolar por ter filho em situação de vulnerabilidade (22,4%), Figura 2.
O sentimento de rotulação, de família irresponsável, pela ausência de acompanhamento escolar, conforme a pesquisa, provoca nas famílias as atitudes de buscar apoio da escola para juntos resolver o problema de dificuldade de aprendizagem do filho, de bulling no ambiente escolar (54,7%), Figura 3.
Figura 3.FRENTE A UMA SITUAÇÃO DE DISCRIMINAÇÃO, PRECONCEITO, DIFICULDADE DE APRENDIZAGEM, BULLING DE SEU FILHO NO AMBIENTE ESCOLAR, QUAL A SUA ATITUDE?
a) Buscaria informação do fato na escola. | 27,4% |
b) Resolveria por conta própria a situação problemática. | 5,4% |
c) Buscaria o apoio da escola para juntos resolver o problema. | 54,7% |
d) Não tomaria atitude para evitar mais conflito. | 11,7% |
e) Não respondeu. | 0,9% |
Na outra ponta, um grupo de família não tomaria atitude para não expor o filho ou resolveria por conta própria a situação problemática (17,1%), Figura 3.
Concluindo, a Pesquisa que trata sobre a Relação Escola, Família e Comunidade, no município de Cambé-PR, os fatores do não acompanhamento familiar do desempenho do filho, no processo educacional, na escola é possível inferir que as causas da ausência dos atores sociais têm relação direta com as políticas de exclusão social das periferias (Touraine, 2010) e expulsão do Outro, o diferente (Han, 2018). A escola, enquanto instituição social de reprodução da herança cultural de um povo, nos processos de socialização, consensos e convívio social, acaba tornando-se um instrumento de controle social dos grupos dominantes. E exclusão dos atores sociais que expresse periculosidade.
A relação social dos atores sociais – família ausente e escola – é de cooperação conflitual. A escola, enquanto instrumento estatal, busca a ordem social dominante, e conflitua com os objetivos da família excluída que é de reação a ordem estrutural dominante de rotulação, estigmação, preconceito e discriminação. A ausência das famílias nos eventos da escola e a desvalorização da instituição escolar são efeitos e não causas do fenômeno em estudo.
A família e a escola devem tratar a educação como uma forma de intervenção no mundo, para transformá-lo, afirmou Paulo Freire, na obra Pedagogia a Autonomia (2014). Cabe a escola saber escutar.