Escute a noticia. Clique no Player acima!
Com formação em artes visuais, Wanderleia concebeu uma peça parecida com um vestido de noiva. O revestimento foi feito com oito mil papéis de balas e bombons, que foram intercalados em camadas em degradé e formam linhas sinuosas nas mais diversas cores. “Ao mesmo tempo em que insinua leveza, que é própria do papel, também dá uma idéia de peso, devido aos coloridos quentes e frios”, diz a artista.
Quanto ao enfoque ambiental, Wanderleia afirma que os papéis que ela usou como matéria prima são jogados aos milhões todos os dias no lixo, criando graves problemas ao meio ambiente. “Sem falar nos bueiros, que ficam entupidos e transbordam a cada tempestade”.
Por isso a artista optou por estudar uma forma de representar uma poética sobre os sentimentos humanos em relação a um momento único e especial, o dia do casamento. “Também levei em consideração o brilho e pensei no carnaval, quando as pessoas passam meses se preparando para uma única apresentação”.
Wanderleia revela que no momento em que estudou o processo de desenvolvimento da montagem do vestido, encontrou na artista plástica Beatriz Milhazes a mesma preocupação com os materiais reciclados. “Beatriz, em suas obras, usa a cor como elemento estrutural e, no seu repertório, inclui questões relativas à abstração geométrica, ao carnaval e ao modernismo”.
Beatriz, segundo Wanderleia, pinta flores, arabescos e quadros sobre superfícies plásticas. Nas colagens sobrepõe camadas de cores e se utiliza de papéis de balas e sacolas de compras para criar harmonias e excessos.
Wanderleia também se inspirou na artista Beth Moisés, que trabalha com vestidos de noiva. “Ela questiona o tempo do grande amor e dos sonhos, mas também dos sentimentos contraditórios e das ilusões perdidas. A essência de seu trabalho está na sua capacidade de compreensão e elaboração poética de sentimentos, que são resgatados por meio de objetivos, símbolos e ritos estabelecidos”.
Em relação à sua montagem, Wanderleia diz que, a princípio, a idéia era realçar as relações e as contraposições entre o belo e as desilusões do casamento. “Mas com o passar do tempo e com mais maturidade, acredito que meu trabalho ficou mais direcionado à emoção e ao prazer único propiciado pelo dia do enlace. Ao contrário da idéia de casamento, segundo a qual com o vestido se começa uma longa jornada de encontros e desencontros com a felicidade”.
Antes da exposição em Cambé, Wanderleia causou impacto em Londrina. Ela convidou uma modelo que desfilou pelas ruas com o vestido, para investigar o olhar crítico do espectador. No Centro Cultural de Cambé a exposição pode ser vista até o final deste mês.