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Muitos candidatos a vice foram confirmados apenas no último domingo, no limite do prazo legal estabelecido pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Sucessor do presidente caso o titular esteja provisória ou permanentemente afastado do Planalto, o vice tornou-se figura evidente nos últimos anos, depois que Michel Temer (MDB), eleito vice na chapa de Dilma Rousseff (PT), assumiu seu posto após processo de impeachment.
“Para o eleitor, o vice tem menos peso do que se imagina. Mas ele é muito importante para as negociações de cargo entre as lideranças partidárias, para garantir capilaridade às campanhas e até mesmo para afastar acusações sobre falta de representatividade”, explica o cientista-político Hilton Fernandes, da Fundação Escola de Sociologia e Política (FESP), que atribui ao último aspecto a presença de pelo menos 4 vices mulheres – sem contar a possibilidade de Manuela D’Ávila (PCdoB) na vice do PT, ainda em negociação.
“O vice deveria prolongar o alcance da candidatura de alguma maneira. Na configuração atual, no entanto, a maior parte dos vices não deve trazer nem votos, nem recursos financeiros ou tempo de TV para os titulares”, opina o cientista-político Marco Antônio Carvalho Teixeira, da Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo.
Afinal, quem são e o que agregam cada um dos nomes apontados pelas candidaturas para a vice?
Fernando Haddad (PT), vice de Luiz Inácio Lula da Silva (PT)
Com o nome de Fernando Haddad (PT-SP) na vice, o PT colocou em marcha o plano B eleitoral. Diante do muito provável indeferimento da candidatura de Lula – condenado e preso na operação Lava Jato -, Haddad deverá assumir a cabeça da chapa. Até lá, no entanto, o partido fará um movimento duplo: o de fortalecer o nome do ex-presidente como titular na disputa e o de apresentar Haddad ao eleitorado como um substituto à altura para o projeto lulista.
“O PT caiu na real de que, com o início da propaganda eleitoral, o eleitor pode perceber que Lula não será viável e consolidar na cabeça uma escolha alternativa, que não seja do partido. Para não correr esse risco, vão trabalhar paralelamente ao Lula o seu plano B”, diz Carvalho.
Prefeito de São Paulo entre 2013 e 2016, Haddad, tem 55 anos e é relativamente desconhecido do eleitor nacionalmente. Venceu o pleito municipal contra o tucano José Serra no segundo turno e perdeu a reeleição, no primeiro turno, para João Doria (PSDB-SP), que é atualmente candidato a governador em São Paulo.
Com sólida trajetória acadêmica na Universidade de São Paulo (USP), é professor de Ciência Política. Chegou a Brasília em 2003, no primeiro ano do governo Lula, para atuar no Ministério do Planejamento sob a gestão de Guido Mantega. A convite do ex-presidente Lula, foi ministro da Educação entre 2005 e 2012, período no qual reformulou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).
Haddad foi o coordenador do recém-lançado programa de governo da candidatura petista. Seu nome vinha sendo aventado como uma das alternativas para se candidatar no lugar de Lula, ao lado do ex-governador da Bahia Jaques Wagner e da senadora Gleisi Hoffmann.
A atual configuração da chapa petista, no entanto, não indica que ela chegará às urnas como puro sangue.
A sui generis situação do PT criou ainda uma estranha figura: a vice do vice. Se Lula for mesmo barrado da eleição pela lei da Ficha Limpa, que veda a participação de condenados em segunda instância na disputa, Haddad ascenderá ao cargo de titular e deve deixar o posto de vice para Manuela D’Ávila (PCdoB), candidata à Presidência dos comunistas até o último fim de semana.
A candidatura de Manuela foi retirada depois que os comunistas decidiram se aliar ao PT, apesar da insegurança jurídica da candidatura de Lula. Embora aliados de Manuela tenham considerado a situação de estepe da política como “constrangedora”, o cálculo do PC do B é pragmático: sem coligar com o PT, o PC do B pode ter dificuldade de fazer uma boa bancada para o Legislativo ou mesmo correr riscos em relação à cláusula de barreira, que pode barrar a representação política de partidos pequenos, que não atinjam um dado percentual de votos. Com a coligação com o PT, o PC do B assegura desempenho eleitoral superior ao mínimo estabelecido pela última reforma eleitoral.
Ana Amélia (PP), vice de Geraldo Alckmin (PSDB)
Ameaçado em sua posição de candidato preferencial do eleitorado à direita, Geraldo Alckmin, do PSDB, optou por uma vice que fortalecesse sua posição nesse espectro eleitoral. Dentre as possibilidades oferecidas pelo Centrão, grupo de partidos liderados por DEM, PR, PP e Solidariedade e que trouxe ao tucano o maior tempo de TV da disputa, Alckmin optou pela senadora Ana Amélia Lemos (PP).
Eleita senadora pelo Rio Grande do Sul em 2010, Ana Amélia ficou conhecida por suas posições antipetistas. Foi uma das maiores defensoras do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e chegou a elogiar ataques a pedrada à caravana de Lula pelo interior do Rio Grande do Sul no início do ano. “Quero cumprimentar Bagé, Santa Maria, Passo Fundo, Santana do Livramento, que botou a correr aquele povo que foi lá levando um condenado”, disse na ocasião. Ela ainda provocou polêmica ao ligar a rede de televisão Al Jazeera ao grupo Estado Islâmico.