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O Dia Mundial da Saúde Mental é celebrado dia dez de outubro, com isso, assuntos como os impactos da internet na vida das pessoas ganham ainda mais destaque. A busca por ‘likes’, seguidores e consequentemente aprovação, pode trazer consequências severas para a saúde mental, já que, apesar de seus benefícios, as redes sociais podem ser um ambiente tóxico, repleto de críticas e pressão incessante pela vida e imagem considerada ‘ideal’.
De acordo com diversos neurologistas, psiquiatras e psicólogos de diferentes abordagens, as crianças e os adolescentes estão em perigo quando focam na vida on-line e não na analógica. Ainda segundo profissionais da área, desde o início dos anos 2010, as taxas de depressão, ansiedade e outros transtornos mentais têm crescido vertiginosamente tanto em crianças, jovens como em adultos, e em diferentes partes do mundo. No Brasil, os dados são assustadores segundo a Rede de Atenção Psicossocial ( RAPS) do SUS, ENTRE OS ANOS DE 20P13 E 2023, a cada 100mil pré-adolescentes e adolescentes, entre 10 e 14 anos, 126 estão depressivos. E entre o público de 14 a 18 anos, 157 apresentem transtornos de ansiedade.
Pensando nos prejuízos que a hiperconectividade gerou no desenvolvimento social e neurológico das pessoas nos últimos tempos, fomos conversar com a psicóloga Simone Barga. Confira tudo que ela nos conta sobre a influência das redes sociais na saúde mental de nossos filhos, pais e de nós mesmos(as) .
- Simone, podemos associar diretamente as redes sociais com o aumento vertiginoso do estresse e da ansiedade?
R: Sim, o uso intenso das redes sociais contribui para o aumento da ansiedade e do estresse por diversos fatores. Embora não sejam a causa direta em todos os casos, sua influência pode ser significativa dependendo do uso e das características pessoais de cada indivíduo. Algumas das situações que a presença intensa das pessoas assistindo e interagindo nas redes geram: comparação social, busca por aprovação, medo de perder algo, cyberbullying e comentários negativos, entre outros fatores. Esses fatores interagem de diferentes maneiras, dependendo de como a pessoa usa as redes sociais e de suas características emocionais e psicológicas.
- De que maneira devemos lidar com o uso de celulares por crianças e jovens?
R: Lidar com o uso de celulares por crianças e jovens envolve encontrar um equilíbrio entre os benefícios e os riscos. Em vez de restringir completamente o uso das telas por adolescentes e crianças, “a chave” está em orientar, monitorar e educar sobre o uso responsável da tecnologia. E falando especificamente das redes sociais, as crianças não estão preparadas cognitivamente, e nem possuem maturidade para assistirem interagirem nas redes sociais. Uma coisa é uma criança assistir a um vídeo em alguma rede, na companhia dos pais, outra é uma criança abaixo dos 14 anos, criar um perfil em uma rede social e estar disponível para interação com desconhecidos. Estar apto a ver comportamentos e atividades inadequadas a sua idade!
3-Quais indicações podem ser adotadas para diminuir a influência das redes sociais no dia a dia de uma criança ou jovem?
Isso requer uma abordagem consciente e ativa por parte de pais, educadores e das próprias crianças e jovens! O objetivo é encontrar um equilíbrio saudável entre o uso da tecnologia e outras atividades importantes para o desenvolvimento físico, emocional e social. Aqui estão algumas estratégias que podem ser adotadas:
–Estabelecer Limites de Tempo: Criar regras claras sobre o tempo permitido para uso das redes sociais e outras atividades online pode ajudar a reduzir o impacto dessas plataformas.
– Promover Atividades Offline: Incentivar hobbies e atividades que não envolvam o uso de tecnologia é uma das melhores maneiras de reduzir a dependência das redes sociais. Isso inclui esportes, atividades artísticas (como desenhar ou tocar um instrumento), leitura, jogos de tabuleiro e tempo ao ar livre.
– Dar Exemplo: O exemplo dos pais e responsáveis é fundamental. Se os adultos em casa estão constantemente nas redes sociais ou em seus dispositivos, isso dá o exemplo de que estar conectado o tempo todo é normal! As crianças são o reflexo do comportamento dos pais!
–Ensinar Autocontrole e Consciência Digital: Ensinar as crianças e os jovens sobre os impactos negativos do uso excessivo das redes sociais, como ansiedade, dependência e comparação social, pode ajudá-los a desenvolver autoconsciência. Esse conhecimento os incentiva a limitar voluntariamente o tempo on-line.
– Monitoramento e Controle Parental: Os pais ou responsáveis precisam entender que é responsabilidade deles cuidar do seu filho, da analógica e da vida online de seus filhos. Usar controles parentais para monitorar o tempo de uso de aplicativos, bloquear sites inadequados e limitar o acesso a certas informações, é uma forma eficaz de reduzir o impacto das redes sociais na cabeça das crianças e adolescentes.
-Realizar Pausas Regulares do uso da tela: São os pais quem decidem o que seus filhos devem consumir online! Incentivar a regra 20-20-20 para descansar os olhos: a cada 20 -minutos de uso de dispositivos.
– Conversar Sobre os Efeitos das Redes Sociais: Mostrar exemplos de problemas e situações disfuncionais que as redes sociais causajm nas pessoas, é uma ótima forma de vivenciar o controle respeitoso dos filgos em relação às telas e redes. Conversar abertamente com crianças e jovens sobre os efeitos das redes sociais, como a comparação social, a pressão para obter curtidas e seguidores, e o impacto na saúde mental, é essencial. Quando eles entendem os possíveis efeitos negativos, podem desenvolver uma postura mais crítica e cuidadosa em relação ao uso das redes!
E perguntei ainda à psicóloga Simone Braga, sobre um resumo da postura ideal das pessoas em geral, em relação às redes sociais (crianças, jovens e adultos). “Diminuir a influência das redes sociais no dia a dia de crianças e jovens envolve um conjunto de práticas que combinam limitação de tempo, educação consciente sobre o uso digital, incentivo a atividades offline, e monitoramento ativo. O equilíbrio entre o uso da tecnologia e outras atividades é a chave para garantir que as redes sociais não dominem a rotina, mas sejam usadas de forma positiva e construtiva”.
E por fim, Simone Braga comenta que, nós adultos, precisamos entender e vivenciar o conceito de autorregulação das redes sociais, para passarmos isso às crianças e jovens. “Como psicóloga, uma reflexão importante a se acrescentar sobre saúde mental e redes sociais é o conceito de autorregulação emocional no uso dessas plataformas. Muitas vezes, os pacientes não percebem que a maneira como interagem com o conteúdo das redes pode ser diretamente influenciada por seu estado emocional. Se alguém está em um momento de vulnerabilidade emocional, como períodos de estresse, solidão ou baixa autoestima, a tendência é que a pessoa consuma o conteúdo de maneira mais reativa, internalizando padrões irreais de vida e comportamento que aumentam a ansiedade e o sofrimento”.
A psicóloga Simone Braga aborda ainda um conceito inovador, alfabetização emocional. “A alfabetização é uma estratégia fundamental para lidar com o impacto das redes sociais. Isso significa ensinar os indivíduos a reconhecerem e nomearem suas emoções ao usar essas plataformas, estabelecendo uma conexão entre seus estados emocionais e o tipo de conteúdo que escolhem consumir ou evitar. Incentivar essa prática pode ajudar a mitigar reações emocionais exacerbadas e promover um uso mais equilibrado e consciente das redes, por parte de adultos, jovens e crianças”.
Braga conta ainda sobre risco iminente do vício em relação às postagens nas redes. “Também é importante ressaltar o papel do reforço intermitente das redes sociais, que, em termos psicológicos, pode ser comparado ao mecanismo que leva ao vício. A interação constante com notificações e recompensas visuais (como curtidas e comentários) ativa o sistema de recompensa do cérebro, gerando sensações de prazer momentâneas, mas que podem resultar em ciclos viciosos de uso compulsivo. Trazer essa conscientização para o consultório e trabalhar com estratégias de redução de uso compulsivo pode ajudar a diminuir os impactos negativos na saúde mental dos pacientes. É preciso que as crianças, jovens e até adultos entendam: curtidas, seguidores e elogios on-line não são amizades e aprovações reais. Essas relações não serão a base de ralções reais da vida. As postagens das redes sociais, são recortes da vida das pessoas, recortes muito bem selecionados e editados!”.
Atenção, mães, pais, tias, avós, é preciso atenção ao uso das redes sociais pelas crianças e jovens. Atente-se à sua própria postura também em relação à sua própria presença nas redes socias, somos exemplos!
E aí, gostou da entrevista, acompanhe a rede social da psícologa Simone Braga e também, da Coluna Bela Manchete e mande suas sugestões: